(Lisboa) Desde de julho de 2003 o blogue sempre serviu para continuar a viajar mesmo quando estou dentro de casa. Vejo as fotografias, procuro nos mapas onde estive, que sítios visitei e os que não visitei mas passei perto e nem me dei conta. Quando voltar e se algum dia voltar, o que gostaria de ver de novo, de novo outra vez e de novo, o que não tinha visto antes. Foi assim que descobri a Ilha da Madeira, hoje, uma região a oeste do centro do Rio de Janeiro. A imagem no entanto é de uma praia na Barra da Tijuca, em 2012. A Barra é uma região linda, todo o Rio é.
Fui ao Rio de Janeiro duas vezes. A primeira vez de férias. Foi marcante e quando apareceu a oportunidade de lá ir de novo, a trabalho, foi uma muito agradável surpresa. A minha missão profissional não era particularmente motivadora mas voltar à cidade maravilhosa era. Isto para introduzir o tema Brasil.
É preciso pensar no quê que o Brasil pode-se tornar se Bolsonaro
ficar na Presidência da República ou o quê que o Brasil pode-se tornar
se Bolsonaro sair. Este é preciso pensar é dirigido ao povo que vota e elege os seus representantes. Uma das coisas que tenho mais visto escrito e ouvido é
que acabou o toma lá dá cá, a velha política, dizem eles, os tais que
vestem a linda camisa da selecção brasileira. Essa camisa não é
propriedade de uma ideologia política, já agora! Nem é um símbolo de uma
ideologia política, já agora! E já agora não se é democrata quando se
quer fechar parlamento e Supremo Tribunal. Já agora, o quê que o
Bolsonaro anda a fazer por estes dias? Não é também a dar cargos em
estatais? Não é verdade que a velha política acabou. Para se manter no
poder o Presidente precisa de um terço mais uma margem no congresso e
está a procurar comprá-lo porque não é fácil fazer um processo de
destituição. Não, eu não tenho acesso à TV Globo por isso não estou,
segundo alguns, contaminado por essa terrível emissora. Terrível para
eles, não para mim. Mas tenho acesso a todos os canais de
youtube/facebook/whatsapp/instagram fascistas que os bolsonaristas se
alimentam para fazerem copy paste sem pensar no que estão realmente a partilhar e também tenho acesso a
toda a outra imprensa que os mesmos bolsonaristas dizem não ser de qualidade.
Convém ler o MANDADO DE SEGURANÇA 37.097 antes de insultar o Alexandre
de Moraes, ok? A palavra amizade não aparece escrita nesse documento.
Procurem e leiam antes de partilhar lixo! Não sei como podem ficar ao
lado de alguém que manda calar jornalistas, alguém que tratou como
tratou Patrícia Campos Mello ou Vera Magalhães, de uma forma muito
baixa.
Parece o Preço Certo, eles vêm
de todo o país e ficam num curral a gritar mito mito mito. Mais
recentemente também gritam Fechado com Bolsonaro. Depois o Presidente
fala com esta gente, esta gentalha, e ignora os jornalistas. Parecem
desocupados, os tais que gostam de mandar os outros trabalhar. "Quando a
gente sente o cheiro da pessoa, não passa um perfume, a gente entende o
que você é" disse uma dessas pessoas. Alguns deles filmam e fornecem o
conteúdo a canais de youtube que depois alimentam os robots humanos que
disseminam os factos alternativos nas redes sociais. São estes os novos
jornalistas, perguntem-lhes os factos que eles sabem. Também são
conhecidos como grillinhos. Os outros que são mesmo jornalistas não
sabem nada (segundo eles). Brincalhãozinho, afinal o churrasco era fake.
Enquanto há tempo para estas brincadeirinhas no Palácio do Planalto os
números no Brasil não param de aumentar e não é só isso, a primeira
derivada dos infectados também parece estar a aumentar. O Presidente
despreza e ironiza o distanciamento físico. Ele é uma Gabriela Pugliesi
que foi eleita para a Presidência da República. Tudo o que correr mal no
futuro é culpa dos governadores e dos prefeitos. Ele está blindado, se
fosse ele a decidir era diferente mas nunca explica como. Ele é o
Messias. Parece ser o Messias da desgraça e do terror, há quem o chame
de genocida e eu não consigo contra argumentar contra este último
adjectivo.
Uma explicação à parte para explicar a expressão grillinho.
Em Itália, Bepe Grillo criou um blogue há uns anos atrás.
De acordo com Giuliano Da Empoli no seu livro Os Engenheiros do Caos, o que fazem os grillinhos:
A partir do final de 2013, o blog introduz uma secção dedicada ao “jornalista do dia”: geralmente, um repórter que criticou o movimento. A vítima é apresentada às massas de grillinhos como um exemplo de má-fé e da corrupção das mídias italianas e se torna pontualmente objeto de injúrias e ameaças nas telas das redes.
É
isso que é feito com a Globo e com William Bonner por exemplo mas há
outros que são referidos pelo Presidente. Alguns não são jornalistas. O
juiz Alexandre de Moraes, por exemplo, que decidiu o que decidiu foi
vítima, uns dias depois, de ameaças na porta da sua casa. "Está com medo
do Ramagem..." era a letra da música que cantavam entre outras
asneiradas. Não me venham dizer que aquilo era uma manifestação. Não era
manifestação nenhuma, era intimidação patrocinada pelos grillinhos.
O Airton Guedes sempre desvalorizou a covid-19. Desde o início, e não mudou a sua posição. Um Rafael Augusto Alves da Costa Ferraz que não
sabe fazer uma conferência de imprensa depois da demissão do seu
Ministro da Justiça com uma linha de pensamento e uma mensagem que faça
um pouco de sentido. Aquecedor do Palácio do Planalto? Para quem é que
ele está a falar? Eu não preciso de viver no Brasil para ter acesso tudo
o que o mito faz e diz. Ouço sempre os dois lados não por prazer mas
porque gosto de por à prova as minhas próprias convicções. Não, eu não
vou achar normal a frase "sempre houve tortura" nem que seja dito por
uma actriz que sempre considerei como uma das grandes da sua área. Chega
de passar o pano e mandar as migalhas para debaixo do tapete. Esse
tapete já está tão inchado que nem dá para andar em cima dele. #forabolsonaro #calaabocabolsonaro