quarta-feira, maio 27, 2020

BRASIL

(Lisboa) Há uns dias atrás circulava na comunidade das fake news uma pergunta. A pergunta é, porquê que em Minas Gerais o covid-19 apresenta baixa mortalidade e incidência? As opções disponíveis: boa imunidade da população ou um governador sério? Contextualizando, o governador de Minas Gerais é o Romeu Zema, para a discussão não interessa se é competente ou não mas importa destacar que não foram especialmente duros no isolamento (em Minas) e Romeu Zema tem um discurso muito simpático a Bolsonaro. Há no entanto uma terceira resposta para essa pergunta que passará despercebida a quem apenas serve de retransmissor de mensagens grillistas: a subnotificação que é um problema em todo o lado mas um problema maior onde se testa menos. A discussão no Brasil está tão politizada que o vírus foi apresentado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, recentemente no seu blogue pessoal, como o comuna vírus. Este nível de discussão não está acontecer na maior parte do resto do mundo. Um dos filhos de Bolsonaro (eu sigo todos no instagram) partilhava um estudo de Nova Iorque onde sessenta e tal por cento das pessoas tinham sido contaminadas em casa, atirando a conclusão que o isolamento não adiantava absolutamente para nada. Nesses canais é tudo assim, forçado, se não concordas és comunista, não percebes nada disto e as conclusões são todas as conclusões que validam as opções do chefe. Faz lembrar regimes como a Coreia do Norte. Tal como na Coreia do Norte o Brasil parece não ter oposição. Relembrando, estas confusões todas foram originadas de dentro do Governo. A saída dos ministros da saúde no meio da pandemia, a saída do Sérgio Moro, os discursos negacionistas do Presidente da República em antena nacional falando de gripezinha e de histórico de atleta, os passeios no meio do público ignorando recomendações das autoridades de saúde, tudo isto não tem nada da mão da oposição e demonstra a falta de preparo da pessoa para ocupar o lugar que ocupa. O Brasil é muito grande em superfície e em população. São 210 milhões de pessoas o que significa que se 10-15% forem apoiantes de Bolsonaro (daqueles que cegos, básicos, mal educados como frequentemente se orgulham de ser, fanáticos que vendem a mãe e mandam entregar) podemos ter 31 milhões de agentes de propaganda por aí. Não se deixem convencer pela grandeza dos números. A maior parte da população ainda assim não está com Bolsonaro e isso é visível nas manifestações de Brasília, todos os domingos. Há corridas de 5000 metros de junta de freguesia aqui em Lisboa que têm mais participantes do que aquelas manifestações espontâneas com "gente de todo o Brasil". Vamos ter calma, vamos deixá-los pensar que podem fechar o STF, que podem fechar o Congresso, que podem validar o que pode ou não ser publicado por jornalistas, é tudo treta para assustar. Bolsonaro a cada semana que passa parece provocar mais vozes a prever que não terminará o mandato, parece caminhar determinado para esse fim, um triste fim mesmo para uma pessoa como ele, principalmente pelo que representa para o país a destituição de um Presidente.

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