O PESO DA IRRESPONSIBILIDADE

(Lisboa) Em muitas organizações a culpa e a responsabilidade são uma espécie de testemunho que passa desde o topo da pirâmide até às bases. O topo da hierarquia só vê o seu próprio umbigo e não aguenta ficar com o peso do testemunho da culpa e responsabilidade na mão. É muito pesado e alguém pode ver. Alguém de fora ou de dentro pode ver aquele que nunca erra com esse marco, com essa mancha: a mancha do erro.

O quê que o esperto faz? O espertinho pega no testemunho e igual ao atleta, entrega-o no fim dos quatrocentos metros iniciais aos seus mais directos responsáveis. Esses sentem também a batata quente na mão e mais uma vez passam aos que estão mais abaixo na hierarquia. Depois esses vão fazendo o mesmo, afinal, o exemplo vem de cima, até que os testemunhos chegam à base da pirâmide e como os que estão na base já não têm ninguém abaixo deles ficam com a batata quente na mão. Ficam a olhar uns para os outros com cara de otários e com o recibo de incompetente passado.

Algumas pessoas com as quais me cruzei ensinaram-me que as exigências fazem todo o sentido quando podem funcionar dos dois lados. Se um dos lados exige, tem de ter também um caderno de deveres mas não, muitos só sabem exigir sem nunca se preocuparem em ser exigentes com eles próprios.

E assim se vai!