sábado, setembro 22, 2007

AINDA OS DELFINS

(Lisboa) Ainda eu percorria os corredores da Francisco Franco e já se falava nos delfins. Para quem não está dentro da história e não está a perceber nada do que digo eu passo a apresentar, em poucas palavras, quem são os delfins. A história apareceu com a possibilidade eterna de o Presidente do Governo Regional se reformar. Essa ideia de delfim deu já muitas capas de jornais regionais, com listas de nomes e respectivas fotografias tipo passe nas primeiras folhas dos diários locais.

A Madeira mais parece um reino monárquico em que o seu rei todo o poderoso escolhe e prepara quem o vai suceder ficando apenas ao povo o papel de confirmar a sua escolha. Girando todo este círculo à volta das mesmas pessoas e do mesmo partido, há décadas, é perfeitamente natural que à oposição não fique reservada mais do que alguns votos residuais. O povo vota em quem vê. Se o povo não vê mais do que as pessoas ligadas ao poder laranja o povo só pode votar laranja e não tenham dúvidas disso. Há por aí quem diga que a Madeira é um caso ímpar de uma pessoa há muito tempo no poder mas a verdade é bem mais simples: existe um poder que chama até si toda a atenção dos media, todo o foco da informação. É o Governo Regional que faz, que constrói, que toma a decisão, que emprega. O Governo Regional é o motor da economia madeirense.

Desde sempre se ouviu, vindo de dentro e fora da Madeira, suspeições disto ou daquilo mas nunca essas suspeições, ou perdoem-me os leitores identificados com o poder laranja, essas acusações sem prova irem mais além do que uma simples reacção mais acalorada e alcoolicamente estimulada no Chão da Lagoa ou no parlamento madeirense. Mas desta vez e tendo ambos os lados forças iguais ou parecidas as notícias de irregularidades na Câmara do Funchal parecem ter alcançado um nível interessante. Quero com isto dizer o que ultimamente tenho escrito e dito de que a alternativa vai, muito provavelmente, surgir dentro do próprio PSD-M quando nele se formar a oposição que não consegue viver fora de portas. Estando o PSD-M habituado a ganhar a tudo e a todos por goleada não vai ser fácil a quem perder (e alguém vai ter de perder pois não poderão ser todos presidentes do governo regional, ou deputados regionais, ou directores de alguma coisa) digerir tamanha humilhação. Estes meninos não estão habituados a derrotas e talvez se tornem perigosos quando a coisa não correr bem para o lado deles.

Nem sei se ria, chore, fique chocado ou deprimido com a notícia do Semanário Expresso de hoje, no caderno principal, na página 8. Para muitos serão apenas trocos as verbas envolvidas. Podem até ser trocos, pode até nem dar para os beneficiados enriquecerem mas há aqui, nesta notícia, se for verdadeira, várias questões éticas e de carácter de quem as pratica que merecem reflexão no mínimo e uma punição severa no máximo. Pagar contas alheias? Câmara sem tesoureiro? Praça do Euro anulada? Subsídios à vela? Bombeiro ilegal? Senhas pagas sem actas? Jazz de luxo? Contratos com o filho? Do sabão às calças? Pagar ao prefeito? Que é isto tudo.

Costumo ler muitos blogues. De entre aqueles que têm na Madeira um foco não encontro muita gente preocupada com toda esta situação. Será que acham normal? Mesmo aqueles que do círculo partidário regional ou do círculo de poder regional passam por cima deste assunto com uma leviandade grosseira. No fundo todos eles são um pequeno grupo de gajos porreiros que conhecem os visados em todas estas situações e que por isso não se atrevem a entrar por um caminho de crítica que os poderia atirar para exclusão.

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