terça-feira, maio 04, 2021

IGREJA DE SANTA LUZIA

IGREJA DE SANTA LUZIA

(Lisboa) Não sei se foi aqui que fui batizado mas foi aqui que recebi a primeira comunhão e foi aqui também que tive todos os meus anos de catequese. Não cheguei a me crismar, deixei a catequese no último ano, quando por questões de idade ou burocráticas inventaram mais um (ano) para eu fazer. Desmotivei e não completei a minha formação católica. Tinha catequese aos sábados e não éramos muitos, chegámos a ser dois ou três na mesma turma, o máximo. O sábado à tarde era já uma extensão do domingo. No sábado de manhã há muita coisa aberta e é bom andar pela cidade quando ela funciona normalmente. O meu pai levava-me aos sábados de manhã pelas ruas do centro para o passeio matinal. À tarde eu vinha aqui para uma hora de formação religiosa. A miúda do basquetebol também, de vez em quando. Numa missa, num domingo de manhã, sentei-me ao lado dela na fila da frente. Não foi bem ao lado dela, estávamos nos extremos do banco e entre ela e eu ainda se poderiam contar: a prima dela, uma amiga e mais um ou dois sem rosto e sem nome. Há uma tendência para quando nos distraímos tomarmos a opção errada e eu para ir para o meu lugar, voltando da comunhão, poderia muito bem ter ido pela frente do genuflexório que na primeira fila não se encontra pegado com o banco da frente porque ele não existe. Em vez disso decidi ir pelo outro lado, talvez atraído pela força da gravidade da rapariga do basquetebol. Foi um festival de pisar pés. Com o meu calcanhar activei o ui na boca dela e um ai na prima e nas amigas. Poderia ter circulado pela tábua onde se encostam os joelhos mas sabem que nestas alturas a lógica perde todo o sentido. Até cheguei a jogar razoavelmente o jogo que ela treinava mas naquele dia a minha proximidade excessiva jogou-me definitivamente para longe da órbita daquele ser que dominava a minha atenção como um cometa que passa tão perto do Sol mas é jogado para sempre para as trevas do sistema solar.

1 comentário:

miradouro das cruzes disse...

Caro Amigo,
Frequentámos a mesma igreja embora não a mesma época. Seja como for o seu pequeno comentário é "muito familiar" já que partilhamos ideias e atos semelhantes. Penso que o átrio daquela igreja motivava mais a uma fuga pela cidade do que propriamente a uma hora de catequese chata. Depois se tinha companhia nas redondezas, agravava ainda mais a motivação para entrar na igreja. Eu preferia ir ver os desenhos animados do perna-longa na Tv das Canárias, muito mais didático na época do que aturar uma catequista já velhota que nos azucrinava a cabeça com atos de contrição. Bem haja pelos seus artigos e por dar a "conhecer" outros tempos e outros vícios à esta nova geração.