(Lisboa) O voo 1687 vinha de Lisboa e o avião desse voo ia ser utilizado para me levar de novo para a capital. Era o pico da Filomena e lá fora, para além da barreira de vidros do Aeroporto só se viam os postes de luz a abanar com vento com chuva. O voo saiu de Lisboa pela pista 03, era o CS-TVE da TAP. Saiu para norte, deu a volta pela ponte Vasco da Gama e rumou a sudoeste a 39 mil pés. Quando passou pelo Porto Santo já vinha a pouco mais de 13 mil pés de altitude. Estava a descer para o Funchal, ou melhor para o Aeroporto da Madeira que fica fora do Funchal mas esse é o nome que aparece nos ecrãs. Parecia tudo bem, tudo bem encaminhado para que o meu plano fosse em frente. Quando chegou perto da costa nordeste deu uma volta a 12 mil pés, uma segunda volta mais pequena onde desceu até aos 7 mil pés e uma terceira onde chegou aos 3 mil e saiu em direcção à Ponta de São Lourenço. Como é que sei estes detalhes todos? Existem aplicações para telemóveis que nos dão estas informações quase em directo. Fez-se à pista 05 mas abortou a aproximação. Regressou à altitude de 3 mil pés e no mesmo sítio onde anteriormente tinha estado às voltas. Deu mais 3 (voltas) e uma 4ª, mais pequena, e apontou para a Ponta de São Lourenço. Desta vez não se chegou a fazer à pista passando por Gaula, fez o desvio para sudeste e seguiu para Lisboa. Fiquei mais um pouco a observá-lo para ver se voltava mas a altitude só aumentava e a direcção não mudava para sul. Fiquei a pensar que passaria mais uma noite no calor do Funchal e teria uma noite a menos no frio inverno da cidade das sete colinas. Estava contente mas não tinha realmente razões para isso. Ficar sem um voo significa a incerteza de quando voltar, significa toda uma logística familiar que precisa de ser pensada, enfim, pensei mas não senti. Achava que devia me sentir chateado e raivoso mas não estava. Ainda liguei uma última vez para aplicação e vi que o avião da TAP que me iria levar só se afastava. Fui à porta pedir informações e à espera de ver confirmada a minha intenção de voltar ao Funchal. A senhora disse-me que não me preocupasse que o voo ainda iria sair hoje. Nesta altura deveriam ser umas 20h. Voltei com um sorriso arrogante pensando que sabia mais do que a informação que me tinha sido dada. Descobri no caminho (alguém nos disse, em modo segredo) que havia um avião estacionado que estaria a ser preparado para nos levar. E assim fomos todos, depois de uma descolagem mais agressiva, para as baixas temperaturas do continente europeu.
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