sexta-feira, janeiro 22, 2021

UMA CARTA QUE NUNCA SERÁ ENTREGUE

(Lisboa) Se eu escrevesse uma carta ao meu pai que já não está aqui entre nós, teria de lhe explicar o que se passou desde que deixou este mundo. Teria de lhe contar que vencemos o Festival Eurovisão da Canção e o Europeu de Futebol. Sim, aquele festival onde por vezes nem pontuávamos e que passava na televisão desde o tempo em que era a preto e branco, num sábado à noite lá para maio. Antes disso e pela primeira vez, partidos de esquerda aprovaram o orçamento e apoiaram um Governo em Portugal, pondo fim ao conceito exclusivo de partidos do arco da governação. Cavaco Silva já não é Presidente da República e ainda que ache que ele terá votado no professor nas duas eleições, também acredito que votaria Marcelo Rebelo de Sousa e estaria contente com a sua eleição. Na Madeira o caminho também parece estar a evoluir e terminaram as maiorias absolutas de um só partido, obrigando a que haja conversa e negociação entre grupos. Na Madeira estas coisas são mais lentas mas vai chegar o dia. Seria a hora H e o dia D, do mês M e de um ano Y. Isto explicado com o mesmo rigor que o Ministro da Saúde do Brasil se referiu ao dia em que a vacinação iria começar no Brasil (1), há uns dias atrás. A vacinação de uma doença que nos começou a atingir há mais ou menos um ano, uma doença chamada Covid-19, o acontecimento mais marcante para todos desde que o meu pai deixou de estar aqui. Teria de lhe contar que o mundo parou em 2020. Ficámos em casa, quem podia, mas veio uma onda que passou no início do verão e achámos que foi duro. E foi. Tivemos a oportunidade de ver o que se passou em Itália e Espanha e fechámos tudo! Fomos rápidos. Fechámos fronteiras e espaço aéreo. Foram muitos dias de março e todos os de abril iguais a um domingo de Páscoa. Depois veio uma segunda e sobreposta a essa estamos a viver uma terceira, nestes dias de janeiro em que escrevo estas linhas. Num mundo cheio de informação que cada um de nós produz a toda a hora desde que acorda até dormir. Tanta informação misturada com desinformação, com desperdício do tempo, com fantasias, crenças, amores e ódios. Dias de janeiro que também são de campanha eleitoral para Presidente da República, as segundas em que ele não vai votar. Como sempre apresentam-se vários candidatos e tão diferentes, alguns desconhecidos como o Tiago Mayan, uma lufada de ar fresco, um candidato que tem feito uma campanha muito positiva. Teria de explicar ao meu pai que embora o elogie não vou votar nele. Não é por ser voto inútil porque sempre achei essa ideia do voto útil muito conveniente para alguns mas muito pouco honesta connosco. Voto é voto e o meu voto tem exactamente o mesmo valor que o voto de qualquer outra pessoa seja ela o que for e seja eu o que for. E como estamos a viver nesta altura? Desde março passamos alguns dias e algumas semanas e meses confinados ou com limitações na nossa mobilidade. Estive em filas para entrar em supermercados, mesmo em hipermercados já tive de aguardar a minha vez para entrar. Começamos a usar máscaras até na rua mas sobretudo em espaços fechados, nos cabeleireiros, nos consultórios médicos, dentro das grandes superfícies, em todo o lado a partir do momento em que se sai de casa. Mesmo com isto tudo vamos mesmo a eleições no próximo dia 24 e é importante continuar com a vida naquilo que for possível fazer, da maneira que for possível fazer. Hoje fui votar antecipadamente, muita gente se inscreveu para o voto em mobilidade. Tive de esperar, queria esperar. Votar também pode ser difícil, a democracia é difícil e este tempo de espera nas filas é uma dificuldadezinha sem importância. Importante mesmo é fazer ouvir a nossa voz, participar e sobre estas eleições tenho alguns pensamentos, algumas preocupações sobre o futuro de Portugal. Por exemplo, ou o fanfarrão das sondagens cai do cavalo dia 24 ou então é Portugal que vai começar a cair do cavalo em breve quando aquela caterva, expressão usada pelo historiador Marco António Villa, entrar no poder. Preparem-se para ver na segunda-feira seguinte o senhor a dizer aos deputados do CDS ou do Bloco que já não deviam estar ali sentados. Devo-me ter esquecido de muitas coisas, esqueci-me de referir que não tivemos Jogos Olímpicos em 2020 e não é certo e seguro que o tenhamos em 2021, não tivemos Euro 2020 e Portugal será assim campeão europeu durante mais do que quatro anos. O Nacional subiu ao primeiro escalão do futebol nacional, o clube que o meu pai foi sócio durante muitos anos e eu, por sua causa, também. Há uma coisa que sei que ele gostaria de ter presenciado, o nascimento do netos. Faltou pouco, a partida dele e a chegada dos netos foram separadas por alguns meses.

CARTAZ - MARISA MATIAS

CARTAZ - ANDRÉ VENTURA

CARTAZ - JOÃO FERREIRA

CARTAZ - TIAGO MAYAN

Referências:

(1) - https://www.dn.pt/internacional/quando-comeca-a-vacinacao-no-brasil-no-dia-d-na-hora-h-responde-ministro-13221373.html

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