terça-feira, janeiro 17, 2012

CHECK IN ONLINE E OUTRAS COISAS QUE NÃO SE PODEM FAZER EM REDE

PORTUGAL CABO VERDE

(Mindelo, São Vicente, Cabo Verde) A vantagem de usar check in online é apenas uma, escolher os lugares no avião. Não existe mais nenhuma. Por enquanto, não dá para despachar a mala online. Eu já tive a pensar como seria. Uma tecnologia tipo Star Trek. Um saco de compras mas muito maior, de maneira a que envolvesse completamente a mala, ou as malas de viagem, ligados ao PC por uma ficha USB, daquelas onde você liga a câmara ou a placa 3G. A mala tele transportava-se para o aeroporto, depois de clicar em ok já no fim do processo. Sim, eu sei que eles também podem vir a casa buscar as bagagens.

O tal check in online cuja tradução não encontro para o português. Costumo usá-lo para escolher lugares como já tinha escrito no início. Vou contar um segredo. Na verdade gosto de estar na fila, à espera, porque estar na fila representa ter a oportunidade de ouvir histórias das vidas das pessoas. Pessoas que eu não conheço, como a brasileira que odeia viver na Alemanha mas que saiu de São Paulo por causa da violência. Ela levava um marido alemão e um gato numa caixa e esperavam-lhe dez horas de voo até Lisboa, mais seis de espera na capital de Portugal e mais umas três até à Alemanha. Qual vida de cão, vida de gato também não é nada fácil. O gato tomou um calmante para dormir e não andar muito stressado. Ao menos vai com a dona na cabine e não no porão, sabe-se lá como. Para além da fila do check in as viagens aéreas têm outras coisas interessantes. Dez horas de voo, por exemplo, dá para ouvir muita coisa. Da outra vez fui sentado ao lado de um professor, também ele do Brasil, farto de ganhar pouco, emigrou para o Reino Unido e agora trabalha numa rede de hotéis como contabilista ou coisa do género. Contou o mesmo, que saiu porque as coisas não estavam bem a nível de condições de trabalho. E houve uma outra vez que a mulher que ia ao nosso lado, quando aterrámos em Guarulhos, disse tchau. Dez horas de companhia, sentados lado a lado, não trocamos uma palavra, mas dez horas de voo dão alguma intimidade e já dão o direito de dizer tchau. Um americano, uma vez, num voo Lisboa-Funchal, depois de faltar a luz dentro da cabine começou a falar com o amigo, também ele turista dos EUA. Segundo o primeiro, seria um problema de disjuntor e recordou quando ele participou na guerra do Vietname e assistiu a um problema semelhante. Virou-se para mim e perguntou se era normal aquele espaçamento entre cadeiras porque ele era enorme e não cabia ali. Sorri e disse que nós portugueses normalmente somos pequenos em tamanho, e também pensamos pequeno muitas vezes. Lembro-me que a conversa fluiu para a crise e eu também lhe disse que estávamos em crise. Corria o ano de 1999, mais coisa menos coisa, tinha rebentado a guerra no Kosovo. Mal sabia eu que a década seguinte seria um caminho para o abismo e que hoje estaríamos, como país, bem pior. Mal sabia eu, não era bem assim. Sempre vi muito dinheiro a circular mas não via criação de riqueza. Bom, já me estou a desviar do tema.

Isto do check in online é muito bonito mas parece que exige que tenhamos uma impressora disponível para imprimir o bilhete de embarque. Numa destas minhas escolhas de lugares decidi imprimir o bilhete e pedi ao segurança da Vodafone para o fazer. Ele teve de abrir o PDF e depois que descobriu o bilhete suspirou, mmm, British Airways, good... Senti que subi no ranking dele. Sabe bem quando isso acontece. Acho que se tivesse pedido para imprimir um bilhete da easyJet como o fiz, uma semana depois, não teria o mesmo efeito, como não teve. EasyJet a meio de uma frase escreve-se com letra pequena, talvez seja disso.

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