sexta-feira, fevereiro 01, 2008

CYBER.NET

CYBER.NET
(Lisboa) Foi há dez anos que acabou uma das melhores revistas que já tive o prazer de ler. Tinha o nome de Cyber.net e apareceu no já distante ano de 1995. Andava eu no ensino secundário na Escola Industrial, aqui no Funchal. Na altura ninguém sabia o que era a Internet. Era tudo muito confuso. Como é que os computadores poderiam estar todos ligados? De que maneira a troca de informação se processaria? Não conhecia ninguém que tivesse Internet em casa nesses primeiros tempos de revista. A Internet foi-me apresentada por essa revista. Navegava na Net pela revista sem saber muito bem o que era. A revista começou por ser dividida em duas: uma dedicada à rede das redes e a outra dedicada ao CD-ROM que a acompanhava. No CD-ROM, para além de jogos e de programas de software, uns integrais, outros em versão de demonstração, poderia-se encontrar pequenas reportagens interactivas sobre temas variados num formato que depois evoluiu, de uma forma natural, para uma revista em formato electrónico.

Para terem uma noção da minha ignorância sobre a Internet, só toquei num PC com ligação à Internet quando entrei para a faculdade. Foi na minha primeira semana de ensino superior, no fim dela, numa sexta-feira, numa altura em que já não tinha mais aulas e já não havia mais nada para fazer. Decidi ir para um barracão de madeira que toda a gente chamava o CIIST. CIIST quer dizer Centro de Informática do Instituto Superior Técnico. Naquela altura era muito complicado arranjar computador. Foi atravez da faculdade que tive o meu primeiro email. Era uma coisa do género qualquercoisa@alfa.ist.utl.pt. Talvez por ser Sexta-Feira, talvez por muita gente já ter ido para a santa terrinha, coisa que eu não poderia fazer por razão da minha terra ficar muito longe de Lisboa e ser impraticável ir todo o fim-de-semana, talvez por já ser fim de tarde, encontrei uma máquina livre. Para aquela máquina estar fazia poderia não funcionar como alguns mais velhos já me tinham dito. Sentei-me e o primeiro site a que me liguei foi o www.nasa.gov. Foi uma alegria muito grande para mim ter ali tanta informação ao meu dispor sobre a empresa e sobre as missões que desenvolvia no presente bem como as do futuro. Corria o ano de 1997, o ano em que a Pathfinder chegou a Marte e o seu pequeno rover circulou pelo planeta vermelho. Uma colega minha de escola (a única que eu saiba) tinha internet em casa e acompanhou as primeiras fotografias que eram colocadas online.

Na altura, grande parte do CIIST, estava ligado ao IRC através de uns programas chamados MIRC. Toda a gente usava esses programas com nicks ou apelidos que dependiam da imaginação de cada um. O objectivo era conhecer pessoas, de preferência do sexo oposto com quem se podessem dar umas cambalhotas. Não me venham com conversas que esse era o móbil do crime! Nada contra. Tudo a favor. Era muito estranho ver uma sala inteira de pessoas solitárias à procura de contacto social. Era estranho e contraditório mas eram esses os tempos e são ainda os tempos modernos: pessoas sós, com uma vida virtual e imaginária longe da real e da possível.

Voltando à Cyber.net, foi uma revista que me ensinou muito do que sei sobre a rede de computadores conhecida como Internet. Não era uma revista de informática, nem uma revista de computadores, nem uma revista sobre hardware ou softaware. Era uma revista talvez inspirada pela Wired. Aliás a Wired é a única revista que conheço que colocaria como semelhante à Cyber.net. As referências na Cyber à Wired são muitas. Era uma cultura. Em Fevereiro de 1998 chega uma carta, enviada a todos os assinates, fazendo as despedidas da revista e desejando um até sempre, ou melhor, transcrevendo, um "até à próxima" que é o que se costuma dizer quando não se quer perder o contacto mas as circunstâncias não nos permitem escolher ou agendar um próximo encontro.

A Cyber.Net aparece nas bancas de jornal em Julho de 1995 e por curiosidade, que sempre me acompanha na vida, comprei-a. Custava uns oitocentos e cinquenta escudos, uns quatro euros e vinte e cinco cêntimos, fazendo a conversão para a moeda actual. Era a versão portuguesa de uma revista chamada .NET. Na altura, em Julho de 1995 a revista dava como utilizadores da net quase 30 milhões de utilizadores. Não faço ideia de como se teria chegado a este número mas parecia-me já muita gente e parecia-me que mesmo falando em termos globais já estava a chegar um pouco atrasado a esta revolução. Uma revolução fantástica e na revista dizia que ninguém comandava a rede. O crescimento era orgânico diziam eles. Hoje os utilizadores da Internet são muitos mais. Hoje já muita gente está ligada, já muita gente usa a rede com normalidade e tranquilidade. A Internet não nos faz mais felizes mas possibilita-nos fazer as coisas mais confortavelmente ou mais rapidamente do que antes. Muitas das coisas pelo menos.

Sem comentários: