domingo, novembro 11, 2007

A MADEIRA FINALMENTE INDEPENDENTE

(Lisboa) A propósito das declarações de Gabriel Durmont sobre a independência da Madeira. Essa questão da independência é desenterrada dos escombros da estupidez de vez em quando por vários motivos. Ou é por que o Sr. Durmont não gosta do partido que está no Governo ou é por que acordou mal disposto. Basicamente são estas razões. Mais nenhuma. Vamos pedir a independência porquê? Temos identidade cultural para o fazer? Vamos supor que o Sr. Durmont vai viajar de avião e a TAP nesse dia atrasa o voo. O quê que o Sr Dumont diz: Madeira independente já! O Sr. Durmont vai à mercearia da Dona Joaquina e trás leite dos Açores estragado, Madeira independente já, grita outra vez. Imaginem que o Marítimo perde. Lá vai o Sr Durmont a gritar desalmadamente pela rua Madeira Independente, Madeira Independente. Por tudo e por nada aparece o Sr. Durmont a gritar Madeira Independente Já. Ainda bem que não é muito conhecido a nível nacional, já existem tesourinhos deprimentes que cheguem com a marca Madeira.

Quem conhece um bocadinho do país sabe que ele é mau. É mau por que não dá oportunidades, é mau por que os salários são baixos, é mau por causa do desemprego, da exclusão e sobretudo é mau por causa da mentalidade atrasada e pouco cívica do português médio. É mau, mas tem vindo a melhorar e é mau se compararmos com os nossos parceiros europeus, pelo menos alguns, mas é bom se compararmos com o país de há uns anos atrás (vinte ou trinta anos atrás). Hoje, em média, somos mais escolarizados, temos em média mais dinheiro no bolso do que tinham os nossos pais ou avós. Os nossos pais ou avós na mesma idade não tinham nem telemóvel, nem Internet, nem TV Cabo. Não tinham não só por que essas coisas não existiam, não tinham por que não haveria disponibilidade financeira para as ter. Os nossos pais e avós não tiveram a mesma facilidade de formação escolar. Tudo argumentos que demonstram que não estamos tão mal como pintamos muitas vezes. Poderíamos estar melhor sim! Mas não estamos por nossa culpa, mais nada.

Não é só o madeirense que é tratado à sapatada, usando palavras do Sr. Durmond. O português em geral é tratado à sapatada e não reclama, não imagina algo melhor, não faz para estar numa situação melhor. Simplesmente reclama e acha que está tudo mal, não respeita o espaço do outro. Quem conhece minimamente o país, sabe que existe falta de legislação em muitas áreas mas falta sobretudo um pensamento diferente, uma maneira de ser diferente, mais exigente e mais orientada para a utilidade e não para a burocracia.

Em Portugal, por exemplo, existem muitas pessoas que se acham importantes por que têm a chaves da casa de banho. Sentem-se importantes por que cada vez que os rins produzem qualquer coisa ou que o intestino nos oferece algo temos de lhes pedir a chaves. Sentem-se poderosos, inutilmente úteis. Porquê que não se coloca a chaves da casa de banho num sítio acessível a todos e cada um se serve à sua medida? Ou porquê deixar o WC fechado à chave? Deixa aberto. Isto passa-se por ser necessário dar uma função relevante ao indivíduo dono da chave da casa de banho. Burocracia pura.

Isto de dizer que o madeirense está a ser roubado é muito bonito mas não passa de discurso para ser usado internamente na Madeira. Não tem qualquer semelhança com a realidade nacional. Nós somos roubados todos os dias mesmo estando fora da Madeira quando sabemos da existência da economia paralela, de pessoas que não declaram os rendimentos reais que auferem. Somos roubados todos os dias quando não somos mais exigentes com os políticos que elegemos. Somos roubados todos os dias, nós todos, vivamos ou não na Madeira, quando aceitamos a precariedade no emprego de certas pessoas que conhecemos. Conheço eu uma pessoa que fica revoltadíssima com a precariedade do emprego da irmã mas que não se importa de pagar mal e porcamente aos seus subordinados. Conheço um líder de equipas que fala com a maior arrogância Se os dias não vos chegam usem as noites. Li há uns tempos num daqueles espaços onde as pessoas metem as suas fotos e vendem a sua privacidade em troco de aparentemente estarem presentes nas redes sociais a nossa área está boa em termos de emprego é pena é sermos explorados. Não é esta frase contraditória? Parece, pelo menos.

Se vivem com a ideia de que Lisboa nos limita o crescimento esqueçam. Lisboa não limita nada, ou pelo menos não limita mais do que qualquer outra região do país.

Sem comentários: