segunda-feira, novembro 13, 2006

CORRUPÇÃO E CUNHAS

CORRUPÇÃO
(Lisboa) Em relação ao fórum da TSF de hoje. Falou-se do combate ao crime económico e outras coisas. Há um aspecto que não há lei nenhuma que vá combater que são as nossas acções individuais de todos os dias. Há muito tempo que venho dizendo e escrevendo isto. Se o politicamente correcto chegasse também a estas questões a coisa melhorava e muito.

Há uns dias atrás decidi parar a minha colaboração com uma empresa. Achava que o pagamento pelos meus serviços era pouco e não correspondia a um valor justo e decidi manifestar isso. Nada de mal em relação a isso: quem está mal tenta mudar, quem não está fica na mesma. Da parte deles veio aquele discurso pseudo preocupado do costume com o sobrolho franzido para dar mais força à encenação. A conversa fiada do costume mas, no entanto, comprometi-me a acabar o trabalho que até aí tinha iniciado. Venho a saber no entanto que havia uma pessoa que por ser pai de não sei quem recebia muito mais pelos mesmos serviços. Acabei a minha colaboração no instante seguinte.

Desconfio sempre das pessoas que têm grandes discursos e muito bem elaborados em relação a justiça social. Posso até enganar-me muitas vezes em relação a isso mas acho que essas pessoas são só garganta. Muito melhor que falar é fazer e dar o exemplo e estas questões levantam sempre outra coisa: a inveja. As pessoas falam muito por inveja e o que é a inveja?

No dicionário da Porto Editora:
s. f.
sentimento de desgosto pelo bem alheio;
emulação;
cobiça.

(Do lat. invidîa-, «id.»).

É exactamente isso. A maior parte das pessoas na mesma situação não pensava duas vezes e fazia a mesma coisa. A mesma coisa, exactamente o mesmo. Por que a amostra de pessoas que ocupa cargos de chefia e de responsabilidade neste país vem da sociedade portuguesa e são os valores que estão distorcidos.

Muitas vezes enquanto estudava na faculdade e estava nos primeiros anos do curso e com outras pessoas na mesma situação ouvia "quando acabar o curso vou trabalhar na empresa XPTO". Eu nunca acreditei em bolas de cristal nem tarólogos e astrólogos e achei estranho que essas pessoas usassem esses profissionais para prever essas coisas. No fim do curso confirmou-se: essas pessoas entraram nos sítios onde disseram anos antes que iam entrar. Os astrólogos acertaram.

Havia como que um orgulho em dizer essas coisas. Era como se estivessem a se promover socialmente. Estavam a dizer que eram poderosos que independentemente das provas prestadas iam entrar.

Outro colega meu dizia a toda a gente que o dinheiro da bolsa era para comprar CDs, era usado como um bónus. As coisas já estavam orçamentadas. Isto revela organização, muito bem rapaz!

Há uns dias atrás recebo um email a dizer que a filha do nosso ex-Presidente da República foi para esta ou aquela função dando a entender que foi por cunha. Eu não sei se foi ou não e pareceu-me um email feito um pouco à pressa e tendo como base a tão famosa inveja.

Na confusão dos dados há uma coisa que fica: não há lei nenhuma que nos possa obrigar a ser sérios e honestos, haverá sempre maneira de fugir (há pessoas que vivem a vida toda a fugir) e cabe a nós próprios a opção de fazer as coisas de maneira correcta ou de maneira errada. Somos nós que escolhemos. Nós e mais ninguém.

Sem comentários: