segunda-feira, outubro 10, 2005

A VITÓRIA DOS CACIQUES

E mais uma vez o povo escolheu quem aparece na TV mais vezes como se quem aparecesse mais merecesse ficar. O povo habituado a programas de celebridades inúteis votou para Fátima ficar. Mas estas palavras não são desrespeitosas para a decisão democrática, são desrespeitosas sim para a justiça que permite a quem dela foge (não interessa se culpado ou inocente) candidatar-se a eleições. O povo não tem de saber se um candidato é honesto ou não, se tem contas a prestar com a justiça ou não. Só tem de decidir em quem votar. O povo não é um substituto da justiça nem pode fazer esse papel.

Valentim Loureiro ganhou Gondomar pela trigésima quinta vez como por estas terras é bem habitual. Com o seu estilo quero posso e mando conseguiu o cargo que queria e o partido que disse um dia amar quase desaparece do mapa. Por fim, no seu discurso de vitória ofendeu o líder do mesmo partido a que um dia pertenceu aliás como o fez repetidas vezes durante a campanha demonstrando o seu baixo nível e a sua mágoa. Ao mesmo tempo que olha para o seu partido revoltado pelo abandono tenta aproximar-se do PS elogiando José Sócrates num elogio barato e oportunista de quem sabe que sozinho não vai a lado nenhum. Ele de facto é o todo o poderoso lá de Gondomar e seria capaz de dizer qualquer disparate ontem, cheguei mesmo a pensar ia propor Gondomar independente ou então promover a futura República de Gondomar. Tudo ia nesse sentido ao dizer que quem manda em Gondomar são os Gondomarenses. Acontece Sr. Loureiro que Gondomar pertence a um país e não é um território isolado que luta sozinho. Enfim, aos poucos os caciques vão caindo e ontem caiu mais um. Daqui a uns tempos cai outro em Gondomar assim que lhe cortarem as imagens na televisão.

Por terras de Oeiras ganhou Isaltino, ainda há pouco tempo envolvido num governo PSD. Desta vez e porque é sempre bom estar no partido quando ele nos dá qualquer coisa mas não é bom quando ele não nos escolhe, decidiu avançar sozinho e ganhou. É claro que o autor destas palavras respeita a decisão dos que votam e isso nunca esteve em causa mas não nos podemos lamentar de viver no país que vivemos e de não sermos mais competitivos lá fora se escolhemos sempre os mesmos para decidir por nós. Os mesmos que fogem para o Brasil quando lhes convém, os mesmos que vivem conturbadas relações com a justiça.

E nós por cá sempre na mesma. Sempre no nosso ciclo de conforto, sempre com os mesmos, os mais experientes. Não temos a vontade de tentar a mudança porque achamos que está tudo bem e há obra visível feita. Mas o que não é visível é falta de iniciativa para mudar. Mudar por mudar? Não, mudar para que as coisas fiquem melhores, para que mudem as pessoas porque os cargos públicos não são para fazer-se carreira, são lugares de contribuição. Para mim parece-me muito estranho alguém fazer carreira como Presidente de Câmara ou Presidente de Junta. Já pensaram bem nas consequências? A consequência é ter pessoas que fazem qualquer coisa para não saírem porque não têm alternativas laborais ou de rendimentos fora desses sítios ou de mesmo de prestígio. Cheguei a conhecer algumas destas criaturas quando vivia no Funchal a tempo inteiro. Eram conhecidos como o Sr. Director tal ou o Presidente não sei quê. Formaram-se novas personalidades com os cargos e fora desses cargos se calhar essas pessoas não se sentem tão bem ou porque não conseguiram se satisfazer noutras actividades ou smplesmente porque não existe muita escolha fora desses cargos para eles. Digam o que disserem são esses lugares que muitas vezes seguram casamentos, pagam a escola dos filhos e as suas intermináveis ofertas extra currículares que os país agora têm oportunidade de fazer através dos seus filhos e mantêm relações de amizade. É importante mantermo-nos nesses lugares pois a vida desmorona-se fora deles. É a vida triste de algum Portugal. O Portugal dos caciques.


FONTE DAS IMAGENS:
Fátima Felgueiras - TSF
Valentim Loureiro - DIÁRIO DIGITAL
Isaltino Morais - TSF
Alberto João Fardim - DIÁRIO DE NOTÍCIAS

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