sexta-feira, agosto 20, 2004

MEMÓRIAS DE CABO VERDE. Dia 1.

CABO VERDE

Dia 20 de Agosto de 2003. Mais um dia quente. Absurdamente quente. É Verão nessa altura mas no Verão, mesmo no meio do Verão os dias anormalmente quentes não são assim tão comuns. O ano passado foram.
A viagem para a Ilha do Sal era ao início da noite e nessa altura eu não sabia que a diferença de horários entre Portugal e Cabo Verde era de duas horas (a menos para Cabo Verde). Estava-me a fazer confusão porque tinha de apanhar no Sal outro avião para ir ter a S. Vicente. No aeroporto de Lisboa ainda comprei um protector solar porque, imaginem, não tinha conseguido encontrar um mais cedo.
Não fazia a mínima ideia do que ia encontrar quando o avião aterrasse no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral. Havia uma ansiedade e uma curiosidade em relação ao desconhecido no ar.
A viagem demorou pouco menos de 4 horas, mas nem pareceu, porque não havia rotina de viagem ali, era a minha primeira vez naqueles lados do mundo.
Mais ou menos a meio do caminho sobrevoei as Ilhas Canárias. Habituado a ser vizinho dos canários estava a passar por cima deles naquele momento. Lembro-me de uma ilha com um formato circular com luzes ao longo de toda a costa.
A minha ansiedade começou a crescer quando o avião inicia a descida para o Sal. Estou mesmo longe de casa, pensei eu naquela altura. Mesmo, mesmo longe! É claro que há sítios mais longínquos no Mundo que eu nunca irei mas foi isso que eu senti. Devo ter passado a uns 300Km do Funchal.
Que estava eu a fazer ali? Era a pergunta que não se queria calar. Caramba, que vou eu encontrar neste país.
O avião continuava a descer e nada. Não via luz alguma lá fora. Nada. Tudo escuro. Já nem sabia que horas eram pois eu não uso relógio e o meu telemóvel estava desligado e programava que ficasse desligado durante toda a minha estadia naquelas latitudes. Que coisa estranha precisar de horas naquela situação. Mas eu precisava de ficar esperto senão perdia o avião para S. Vicente.
O Airbus A320 continuava a descer e agora curvava e apareceram uma tímidas luzes então, mas muito poucas. Que coisa: só isto? Pensei eu na altura! Depois rectou e aterrou! Lá fora poucas luzes também. Já cheguei. Estava a meio do segmento que une Brasil e Portugal.
Vinham poucas pessoas de Lisboa, praticamente só as cadeiras das janelas tinham ocupantes. Que alegria, que ansiedade, que sentimento estranho estar ali. Tinham-me dado um papel para preencher ainda durante o voo porque era estrangeiro.
Carimbada no passaporte a minha entrada no país precisava de encontrar o caminho para o outro avião. Que ar pesado. Que atmosfera terrível. O que pensei na altura foi que não aguentaria durante três semanas aquele ar assim. Custava a respirar. A minha irmã de certeza teria problemas em respirar ali, talvez entrasse em pânico. Acho que o meu corpo se habituou porque foi o pior dia para mim. O calor permaneceu mas o ar deixou de ser pesado. Mas foi uma tortura aquele ar espesso. Dentro do autocarro do aeroporto parecia que estava no frigorífico e fora dele estava no forno.

ATR - 42 - 300

O avião da TACV que me levaria a S. Vicente tinha uma hélice em cada asa e devia ter espaço para umas trinta pessoas. Mas mais uma vez os lugares não estavam todos ocupados, havia pessoas que tinham vindo comigo de Lisboa que estavam naquele voo também. A viagem até S. Pedro, durou uns quarenta minutos e a hospedeira ficou-me na cabeça até hoje. As caboverdianas são mesmo bonitas.

CABO VERDE
O mapa da Ilha de S. Vicente, em Cabo Verde.

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