Ao contrário de provas de circuito fechado, eu nunca achei muita piada em ver Rali na televisão. Não gosto, não me prende. Os carros passam um por um.
O que eu acho piada num rali é pegar no pessoal e ir para um sítio desconhecido ou pouco conhecido. Chegar cedo, escolher um lugar bom e de preferência seguro para tirar boas fotografias ou simplesmente ver os carros a passarem. Com gente agradável ao lado as coisas boas amplificam e o bom passa a ser muito bom.
Desde sempre que conheço o Rali Vinho Madeira e desde sempre nos dias em que ele se realiza há um ar diferente no ar na Ilha da Madeira. Como há no Carnaval ou no fim de ano. É uma festa em que todos estão convidados a participar. Não é que as pessoas sigam de perto o automobilismo. Se perguntarem para alguém quem é o líder do campeonato regional de ralis, ou do nacional de ralis, ou do europeu, provavelmente ninguém sabe. Mas muita gente assiste. Assiste porque pode ir ver, porque conhece alguém que conhece alguém que participa. Assiste porque é Campeonato Europeu mas talvez não perceba que esse Campeonato Europeu não tem a força do WRC nem tão pouco da Fórmula 1. Não seguem automobilismo mais do que esses dois ou três dias por ano em que a ilha em que vivem é um pouco mais vista em alguns sítios no mundo.
O sonho de fazer parte do Mundial de Ralis é legítimo e ele também me pertence. Quem sabe um dia.
Mas o que é gostar de automobilismo? Gostar de automobilismo é apreciar o desporto motorizado, é achar saboroso estar no meio da floresta com os amigos a observar os carros, é andar quilómetros sem saber muito bem onde é a estrada onde passam os carros e não encontrá-la e não ficar puto da vida por isso, é perder tempo/ganhar tempo a ler textos sobre o tema, é dedicar-se a usar a gíria do grupo automobilístico, é isolar-se do mundo ao ver uma corrida na tela da televisão.
Se conseguires ultrapassar a barreira da intimidação da ignorância, passado um tempo começas a saber os nomes dos personagens que participam, ganhas mais uns conhecimentos de como é a mecânica de um carro, de como é conduzir rápido, mas tudo muito superficial porque falta a prática. Tudo muito teórico, tudo muito papel e lápis. Uma minoria tem essa prática mas a maioria não tem. Mas queres sempre mais, como um vício, como um crescimento.
E já agora sempre que forem a uma competição automóvel saibam sempre que não são só os pilotos que correm riscos. O espectador também corre riscos por isso posicionem-se bem e olhem pela segurança dos que estão com vocês. O que fiz em 2002 para tirar essa primeira fotografia (a fotografia do citroen não é minha!) não faço mais. Ficar no exterior de um gancho pode proporcionar excelentes imagens mas é um risco desnecessário.
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