domingo, setembro 21, 2025

CS-TOG - BARTOLOMEU DE GUSMÃO

CS-TOG - LPMA - A330-200 - TAP

(Lisboa) O tempo em setembro, em Lisboa, é sempre tão rigoroso. As temperaturas caem como se estivéssemos em pleno inverno siberiano, o vento sopra com a força de um tufão em Macau, os pés não me conseguem segurar, e a chuva não cai: agride. Sair de casa com um guarda-chuva transforma-nos em Mary Poppins.

Nestas condições extremas, só um aventureiro inconsciente ousaria caminhar pelas ruas. Eu não, limitado como estou, sinto-me quase como quem caminha de canadianas por uma rua inclinada e escorregadia com os pés a implorar por descanso.

Por isso, não restou alternativa: fiquei dentro de casa. E, em vez de captar o presente, maltratado por este humor meteorológico, mergulhei nos meus arquivos fotográficos. Imagens guardadas, memórias cristalizadas em pixels, que agora ganham nova vida enquanto lá fora Lisboa se disfarça de Reykjavik em janeiro.

Spotting também se faz disto, de viajar para trás até ao passado, de redescobrir nos arquivos aquilo que o mau tempo, real ou inventado, não deixa ver no presente.

Na imagem o Bartolomeu de Gusmão inventor da Passarola, CS-TOG, é um Airbus A330-200 da TAP, já reformado, a aterrar na Madeira, na pista 05, no ano de 2014. Imagem captada em Gaula. Uma fotografia antes ou depois desta foi usada como capa de YOUTUBE de um conhecido programa de rádio e quem não gosta de ver o seu trabalho reconhecido? Nesta altura, em 2014, ainda não havia muita gente de volta dos aeroportos a fotografar ou a filmar em direto para o mundo.

Há uns dias perguntei ao ChatGPT se o Aeroporto da Madeira tinha ILS, ele respondeu que sim. Como se pode ver na imagem não tem, e eu já expliquei ao próprio porquê. Não mudou de 2014 para cá.

domingo, setembro 07, 2025

PÊRO DA COVILHÃ

CS-TXC - LPPT - Airbus A321-251NX(LR)

(Lisboa) O Pêro da Covinhã, um Airbus A321, Airbus A321-251NX(LR), em Lisboa, LPPT. O LR, se forem à procura, quer dizer long range e o X é qualquer coisa como um extra long range. É como aqueles pacotes de sumo com mais 20% grátis mas aqui o extra paga-se. É uma forma resumida do fabricante transmitir que este avião está preparado para percursos mais longos.

Enquanto eu apontava a teleobjetiva, outro spotter aproximou-se de mim e perguntou: Então, também está à espera do Emirates? Respondi com um sorriso de superioridade daqueles que se tem depois dos jogos do FC Porto: não estou à espera do Emirates, eu gosto mesmo é dos aviões da TAP, acho-os sexy.

Isto da TAP já é um amor antigo. Quando a minha irmã mais velha foi estudar para Lisboa doeu como poucas coisas doem. Depois foi a Lena, uns anos depois, a segunda irmã, a segunda partida já me afetou menos, eu já era maior e, confesso, ia ficar com a casa toda para mim. Espaços maiores são melhores para curar depressões, tenho a certeza que existe um estudo que apoia a minha teoria.

No final dos 80s e início dos 90s os aviões chegavam com um barulho ensurdecedor eram mais brutos do que são hoje. Na varanda de LPMA, mãos nos ouvidos, mas não conseguia deixar de olhar. Havia ali uma energia estranha, partidas e chegadas que se misturava com as dores e alegrias da vida. O barulho era o som da distância, das despedidas, dos regressos, do mundo que se abria cada vez mais.

Ainda assim, ir ao aeroporto para me despedir delas ou para as reencontrar era místico. Mais intenso do que todas as manhãs de oração nos Salesianos. Naquelas orações, quando cantava “a minha meta é Cristo, o meu troféu és Tu, meu Senhor”, a voz saía da boca como um som mecânico. Cantava para ir para o céu mas pensava era nas miúdas do basquete… ou na professora de matemática, enquanto o Sr. Padre Giovanni, com o seu sotaque italiano, pedia um pequenino esforço para irmos um pouco mais além e alcançarmos os nossos objetivos. Pela professora de matemática até deixei cair a nota para 57. Depois recuperei, no teste seguinte, para noventa e tal, só para ouvir a sua voz dizer: que bela recuperação, gostei muito, tenho a certeza que o 57 foi um acidente de percurso. Respondi-lhe que tinha sido apenas um ponto fora da curva. A matemática sempre se encaixa na vida real.

É por isso que continuo a olhar para os aviões com fascínio e emoção, não são só máquinas que ligam aeroportos, são cenários de despedidas, reencontros e histórias que, mesmo sem sabermos, nos mudam para sempre.