(Lisboa) Três ou quatro spotters, lado a lado, cada um com a sua teleobjetiva apontada para o mesmo alvo, invisível desta perspectiva. Há mais, dispersos pela colina e ao longo da vedação, é o seu ecossistema natural. Esta é também a nossa igreja, com missa ao ar livre mas sem homilia aborrecida. Os aviões são os nossos deuses, desculpem-me os crentes, mas com muito respeito, sempre. É isto que nos une, pelo menos nestes momentos, pessoas tão diferentes, vindas de mundos distantes, que se encontram sempre nos mesmos sítios, guiadas apenas pelo som dos motores e pelo cheiro a gasolina de avião, uma espécie de incenso relaxante.
Há quem venha com câmaras topo de gama, objetivas que custam o equivalente a um carro usado e há quem esteja ali com um simples telemóvel. Simples é maneira de dizer, porque hoje um telemóvel faz mais do que os computadores da NASA faziam, quando mandou as missões à Lua, mas não interessa o equipamento, o que interessa é a paixão. Essa sim, é autêntica, intensa e irracional, afinal de contas é uma paixão.
Durante aqueles minutos de disparos, todos respiramos ao mesmo ritmo, olhos colados aos pássaros de metal. É uma paixão que se consome rápido, mais rápida que um romance num concerto dos Coldplay: intensa, breve, sem promessas para o futuro. Depois, cada um vai à sua vida, edita as suas fotos, publica ou não, e nada disto aconteceu, fica um segredo só nosso, ninguém precisa de saber.
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