quarta-feira, julho 28, 2021

32 - ROCHINHA

PARAGEM DO 32 - ROCHINHA

(Funchal) Nos cinco anos em que andei nos Salesianos, no Funchal, lembro-me de sempre começar as aulas cedo, antes das 9h. Se a minha memória não me falha, a primeira aula começava às 8h45m. Antes dessa primeira aula havia uma oração e uns minutos de recreio e descontração, no pátio. Isso fazia com que tivesse de sair de casa umas 7h30m para apanhar o autocarro às 8h, na Avenida do Mar. Acordar deveria ser um pouco antes das 7h. Sempre tive aulas de manhã. Na primária, antes dos Salesianos, também era da parte da manhã e na Francisco Franco, no secundário, idem. Na faculdade continuou mas como o tempo de deslocamento era maior, acordar ainda mais cedo era necessário. Acho que foi por isso que nunca tive problemas em acordar e talvez por isso também não use despertador há muito tempo. Voltando aos Salesianos, a paragem do 32 era e parece que continua a ser, a primeira paragem do lado sul da avenida, depois de passar o cais da cidade no sentido este oeste, antes de chegar ao Vermelhinho, em frente ao Palácio de São Lourenço. Devo ter apanhado o autocarro aí centenas de vezes. Depois, para o tempo de conversa ser maior, chegava um pouco mais cedo, ou apanhava o 31 para o Bom Sucesso. Altura houve em que o passe de criança não dava para todas as zonas e o revisor do 31 expulsou-nos antes de chegarmos ao nosso destino. Ir no 31 significava chegar em cima da hora mas viajar sentado e com companhia. O autocarro da Rochinha, das 8, ia sempre cheio, a abarrotar. Os temas de conversa seriam, por exemplo, o que tinha passado na TV na noite ou no fim de semana passado. Para quem gostava, futebol, o filme de domingo à tarde ou de sábado à noite. Só havia um canal de televisão para a esmagadora maioria da população: a RTP-Madeira que na altura levava a televisão aos madeirenses. Hoje a RTP-Madeira leva a Madeira aos madeirenses e ao mundo. O combinar era amanhã à mesma hora aqui neste banco ou ali mais atrás. Não havia telemóvel para mandar mensagem que estou atrasado ou hoje não consigo ir nesse horário. Houve um dia em que por alguma razão não houve a primeira aula e era possível chegar mais tarde. Estava sozinho na paragem, voltado para o placar quando aparece o Bruno. Disse-lhe olá e continuei na minha análise enquanto ele insistia para que olhasse para o carro novo do pai que acabara de o deixar ali. Lá lhe fiz a vontade e deixei escapar um muito fixe para ver se o acalmava. O Bruno era um personagem, era um daqueles tipos sempre preocupados com a roupa de marca e com os carros que o pai tinha e com os carros que os pais dos outros tinham. Ainda hoje, muitos anos depois, continuo a encontrar Brunos por aí. Pessoas mais preocupadas com a marca do que com a utilidade e uso das coisas.

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